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SEGUNDA-FEIRA



Acho que toda Segunda-feira é assim, aquela sensação de que o final de semana se foi, e que você não fez nada. Ou então de que foi bom, mas que podia ter sido melhor. Ou mesmo ainda que tenha sido sensacional, e justamente por isso não deveria ter acabado.


A vida, como já dizem naquele filme Dogma, é uma sucessão de momentos. E momentos não voltam. Não tem segunda chance pra vida, não tem como voltar atrás, não tem como desfazer o que está feito, em suma, não existe CTRL-Z pra vida.


Se a vida fosse como um caderno, seria um onde somente é possível escrever de caneta, onde todas as páginas tem uma rubrica sua, para saberem que foi você que fez aquelas anotações. E em caso de erro, não dá pra apertar as teclas mágicas do computador, que desfazem e anulam tais ações. Neste caderno, ou você usa aquela borracha vermelha-e-azul que só apaga o escrito de caneta porque ela leva um pedaço do papel junto, ou você rabisca, garrancha, ou passa corretivo em cima de tudo.


Paliativos. Resolvem, mas não desfazem.


Mais ou menos o que fazemos depois de perguntar sobre fulano e ouvir que ele morreu a dois dias, ou confundir o nome da namorada do seu amigo com o nome da ex dele. Tentamos consertar o estrago do jeito que dá.


Mas tá de boa, Segunda não é lá de todo ruim, na minha época ainda passava tela-quente a noite, hoje já nem sei. Se não passa, então é ruim mesmo.


Só nos resta esperar pela Terça, para que ela chegue logo, porque aí é um pulo até o final de semana, que pelo menos onde eu moro começa na Quinta à noite, e termina no Sábado.


Isso mesmo, no Sábado. Domingo é aquela coisa, um finalzinho do final de semana que quase ninguém aproveita.


Aliás, esse texto deveria se chamar Domingo. Mas agora já foi, e não da pra voltar atrás (na verdade dá, mas vou fingir que não, para aumentar a ilustratividade do exemplo).


Domingo é que aquele dia pra não se fazer nada, e ficar arrependido depois. Dia para sair na sacada do apartamento ou na rua de casa, e ter a sensação que a humanidade inteira sumiu, e que só sobrou você, sozinho no mundo (em um roteiro mais legal, sobra só um casal). Aquele dia que dá pra ouvir o silêncio da cidade. É estranho, a gente “ouve” o silêncio porque o ruído de fundo está ausente, e só notamos o ruído de fundo quando ele não está presente, vai entender.


Dia de ficar vendo o tempo passar.


“Ver o tempo passar”. Curiosa expressão.


Não podemos de fato ver o tempo passar, mas quando a gente repara, um bocado dele já passou.


Domingo é tão ruim que mesmo quando o feriado cai na segunda, o domingo ainda fica com cara de domingo, e a segunda vira um novo domingo, alterando a sequência semanal para Sábado, Domingo, Domingo e Terça. Feriados deveriam ser permitidos apenas nas Terças e Quintas, para o máximo aproveitamento. E feriado no Domingo então? Nem vou me atrever a entrar nessa exponencial.


Se fosse um dia bom, não existiria a expressão “que dia mais com cara de domingo”.


E sabe quando começa a Segunda? Começa com aquela sensação "no Domingo, quando acaba o Fantástico”, bem disse minha amiga Laura.


Acabou o Fantástico...Aí, aí já era.


Não sei pra vocês, mas pra mim, geralmente é um dia perdido.


Mas sobre o que eu estava falando mesmo?


A é, que não há retornos para o tempo.


Hoje é Segunda, mas podia ser Domingo ainda, ou então, melhor, podia ser Sábado. Sábado, como o nome já diz, não tem Domingão na TV.


Hoje é Segunda, e eu queria um CTRL-Z para voltar atrás.



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