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ARMAS DA REVOLUÇÃO


Ah, a internet, a ferramenta das ferramentas, o mundo dos mundos, onde tudo é possível, e sendo talvez uma das mais complexas coisas já inventadas pelo homem. E como toda boa invenção, ela pode ser usada para o bem ou para o mal, ou ainda para porra nenhuma, sendo essa claramente a minha opção favorita (a menos que ver fotos e gifs de gatinhos tenha alguma utilidade ainda por ser descoberta).

Pois é esse mundo tão surpreendente e tão ilimitado em opções que foi o berço do cyberativismo.

Já vou adiantando aqui, caso ao final desse texto (sou prepotente a ponto de achar que vão ler tudo) você fique com uma idéia errônea da minha posição. Não sou contra o cyberativismo, aliás, não sou contra quase nada nesse mundão. Excetuando é claro a retirada dos desenhos animados como consequência de uma lei que proíbe o uso de publicidade infantil na televisão, uma lei que só pode ter vindo do mundo dos chatos. Mas que o Silvio Santos já falou que não vai afetar a programação infantil do SBT, o que me deixa um tanto aliviado.

Mas não fujamos do tema.

Voltando a minha posição sobre o cyberativismo: fico surpreso em como esse “movimento” foi capaz de dar um upgrade (mais um estrangeirismo para parecer entendido do assunto) no nível de ativismo dos acomodados, que por serem chamados de acomodados, se pressupõe que nunca fizeram porra nenhuma por nada em que acreditam, exceto talvez, terem montado algum fã-clube dos Backstreet Boys, ou deixar o cabelo igual ao de algum jogador de futebol.

Esses ex-acomodados agora inundam as redes com seus protestos, com sua indignação, e todo o seu conhecimento da causa em que militam. E como o fazem? Ah, de uma maneira esplendorosa, incisiva, e ousada.

Trocando a foto do perfil na rede social.

...

Sério.

...

Não, não é zueira.

Quer dizer, você já deve ter visto isso pela internet, ou talvez até tenha feito isso.

...

Não se sinta ofendido ainda.

...

Prossigamos, pois não se limita apenas a isso.

Pode ser também colocar no lugar alguma tarja que simbolize a luta de algum país distante, ou alguma outra causa que você apoie, ou ainda, o slogan/número/foto de algum político, ou fazer um texto abarrotado de hashtags, o que me leva a crer que muita gente não sabe como o # funciona de verdade, existem ainda uns extremos que fazem isso na descrição do “quem sou eu” em apps de relacionamento. Não, esses aí sim vão mudar a sociedade.

É sério, juro, tem gente que faz isso, parece loucura não? Quem imaginaria isso? Guy Fawkes (aquele cara simbolizado por aquela máscara que todo mundo usa agora nos protestos) deve estar sacudindo em seu túmulo.

“ah, mas você é que está sendo acomodado, ao menos estão fazendo alguma coisa”

Sim, de fato, estão fazendo alguma coisa. Mas fazer alguma coisa nem sempre leva a qualquer coisa, pode ser que leve a coisa alguma. É preciso fazer a(s) coisa(s) certa(s).

E é isso que eu acho que foi esquecido.

"mudar o mundo do sofá da sala, postar no insta" Já disse o Criolo.

Tudo bem que o Trend Topics do Twitter é uma boa, aliás, excelente fonte de dados pra imprensa e para o mundo saberem o que está sendo mais falado por aí, mesmo que seja o fim do namoro do Neymar. Ou mesmo que quando 683.254 milhões de pessoas troquem sua foto do perfil, o mundo veja que aquela causa tem apoio público, ok, isso é ótimo. É ótimo mesmo, mas não é o suficiente.

Mudar foto do perfil não derruba governo, não ajuda de fato minorias oprimidas, não envia centavos pras pessoas famintas da África e não criam projetos de lei. São apenas catalisadores, aceleram a reação, mas a reação antes de acelerada, precisa ser criada.

Atitudes do mundo real sim. Sair de casa por exemplo, ir em alguma manifestação, é, manifestação, parece muito old school (caralho muleque olha esse termo) mas dá resultado, quer dizer, quando as pessoas que estão lá estão mais preocupadas com o protesto do que em tirar selfies pra mostrar o quanto são engajadas. Os governos devem temer as massas, e não o contrário.

“mas eu não concordo com a manifestação que vai acontecer no dia tal”

Então vá lá e organize a sua, ao invés de ficar criticando atrás do computador as que já existem por serem de uma vertente que você não concorda. E lembre-se que aqueles que você critica ao menos estão lutando pela causa em que acreditam. Mesmo que essa causa seja “Star Wars é melhor que Star Trek” ou vice-versa.

O que eu vejo como (apenas) mudar a foto do perfil, é o equivalente a colocar no caderno um adesivo escrito fuck the system, ouvir em casa um CD do Rage Against The Machine, e não fazer nada além disso, e o pior, ir dormir achando que está contribuindo para a mudança do mundo, e ainda esperar que ela aconteça.

“ah, mas você é um hipócrita, está aí escrevendo essas coisas nesse blog, dá no mesmo”

Sim, estou, mas só criamos esse blog pra espremer as mexericas ácidas que se tornaram nossos cérebros, não acho e nem espero que ele vá mudar alguma coisa, aliás, nem é esse o intuito.

Mas o ser humano é preguiçoso por natureza, prefere terceirizar as atitudes e pensamentos, afinal é mais fácil alguém interpretar um livro gigante de uns mil e tantos anos, do que você se dar ao trabalho de fazê-lo, ou ainda esperar que alguém vá lá tomar porrada da polícia pra que você tenha o direito de ver desenhos animados pela manhã.

E além de preguiçoso o ser humano é tribal, precisa achar seu grupo, precisar ser completamente correto fora de casa (e dentro da internet), um exemplo a ser seguido (mesmo que seja apenas por aqueles que concordam com tudo que ele diz na rede social, afinal os opositores já foram devidamente bloqueados e/ou eliminados), não há debate, há apenas a imposição de idéias e ideologias.

E sabe o que acontece depois de tudo isso? Depois de ostentar por dias aquelas fotos nos perfis do faceb...caham. Bom, depois quando sozinhos em casa, ou quando acham que ninguém está olhando, essas pessoas costumam revelar seu verdadeiro lado podre, desumano, e vil.

Com atitudes que jamais estariam estampadas na foto de capa e que jamais seriam precedidas por um hashtag, um lado que cola melecas de nariz no tampo da mesa, e rouba as pilhas do controle remoto da TV do quarto da irmã. Fazem isso, e depois exigem ética dos políticos.

Mude você, antes de tentar mudar o mundo.


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