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Sachê


É preciso sabedoria budista para utiliza-lo, não se entregar ao impulso de colocar uma farta quantia aonde se dará a primeira mordida, porque depois não haverá quase mais nada, e o esforço para abri-lo muitas vezes não compensa o sabor do conteúdo, que em 90% das vezes tem mais a textura de um gel para cabelos do que de molhos propriamente ditos.

Na maioria dos lugares esse objeto é servido a vontade aos clientes, o que parece uma cortesia nada mais é que pura e simples tática comercial. De que adianta você ter tantos sachês disponíveis se apenas uma ou outra pessoa conseguirão abri-los? É o mesmo que soltar alguém em um deserto e deixa-lo com toneladas de comida e água enlatada para sobreviver, e sem um abridor. Em oposição a essa estratégia existem lugares que regulam sua quantidade como se fossem ração para soldados "apenas um por salgado”, diz a atendente de alguma lanchonete que deve pertencer a um turco ou ao Tio Patinhas.

Para os mais incrédulos digo que já vi um sujeito ter que dar explicações a polícia por ter pulado pra dentro do balcão e pegado mais um ou dois desses condimentos embalados, que por sinal deveriam ter seu material inrasgável utilizado também na fabricação de sacolas de supermercado.

Pode-se abri-lo esmagando-o, mas isso não é lá muito inteligente, uma vez que metade do conteúdo vai ficar entre a sua mão e a mesa, e o resto vai voar diretamente para sua camisa, que muito provavelmente será branca.

"Posso tirar da minha mão e colocar no salgado", algum idiota de hábitos higiênicos duvidosos vai afirmar. Imagino se um sujeito desse não esmaga os ovos em suas mãos e depois os joga de qualquer jeit

o na panela com casca e tudo quando quer fritá-los ou fazer uma omelete. Se tentado perfura-lo com um palito de dentes não se consegue nada mais do que um deixar o palito tão pontiagudo quanto a bunda de um lápis.

Para os que usam aparelho o problema é menor, da pra usar algum ganchinho desses que machucam a bochecha por dentro para abrir um pequeno orifício, mas se você não é um dos privilegiados pela genética que nasceu com a arcada dentária fora do lugar, ou também não é o vilão com dentes metálicos dos filmes antigos do James Bond, esqueça, seus dentes cortam tanto quanto um cerrote banguela.

Por fim, nada resta a não ser desistir, e deixar o sachê de lado. Ele merece.

Antes de coloca-lo sobre a mesa, encara-se aquele inimigo tão resistente. A um ”q” de ironia nisso, que material é esse? Cota de malhas feitas anéis de chifre de rinoceronte não seriam tão fortes, talvez meias o mesmo material das polêmicas meias Vivarina deixando seu legado mais uma vez.

Gregos, gregos, em toda sua sabedoria e invenções não conseguiram chegar a esse polímero, e encerrar dentro dele a caixa de pandora, evitando que hoje a humanidade sofresse com tantas doenças. E os vazementos de Chernobyl? Se a pudéssemos ao menos voltar no tempo.

A frase dos Mamonas Assassinas "embalagem de iogurte inviolável" aplica-se também aos sachês, por sinal com muito mais propriedade. Se a mesma tecnologia de fabricação fosse aplicada aos cofres, muitos roubos a bancos de feições hollywoodianas poderiam ter sido evitados.

Pois é quando se está prostrado e nervoso pelo fracasso, que você se depara com algo ao lado do paradoxal escrito “rasgue aqui”, que teria evitado que seu salgado esfriasse e teria poupado todo esse desgaste inútil de energia (que já dava pra alimentar uma pequena subestação).

A validade já tinha vencido.

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