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DIA DO BRINQUEDO


Ah, os dias na escola.

Existiam dias bons tipo o dia quando alguém fazia aniversário na escola e trazia comida e bolo para todo mundo (!!) e dias ruins, como aqueles dias que mesmo gripado, sua mãe te mandava pra escola, afinal, você não estava morrendo e ela nunca faltava na escola quando ela tinha sua idade.


Mas existiam as sextas-feiras, aquelas sextas-feiras que só não eram os dias mais aguardados que natal e aniversário, aquela sexta aguardada por todos: O DIA DO BRINQUEDO!!!!! (a quantidade de exclamações apenas ilustra a felicidade da criança neste maravilhoso dia).


Que dia incrível era o dia do brinquedo, quem não amava este dia? No dia seguinte não tinha aula, se tinha lição para fazer, era feito nas coxa, já que você possuía nas mãos um Power-Ranger verde com aquele peito giratório Made in China, importado do Paraguai. A quinta-feira já era um dia de muita expectativa, afinal você tinha que analisar com muito cuidado qual brinquedo levar. Afinal você não podia levar um brinquedo velho, quebrado ou repetido, mas também não podia levar o seu brinquedo predileto... Vai que alguém quebra?!


Sexta-feira você chegava imponente na escola, com seu G.I Joe Tigre da Selva ou seu Seiya de Pégaso laranja, comprado com muito carinho em uma feira de rua por 1/6 do valor de um original. Era quando todos os seus sonhos e expectativas eram destroçados pela verdade nua e crua: crianças são cruéis, crianças com brinquedos irados são MUITO mais cruéis.


As professoras sempre incentivavam a troca dos brinquedos, aprender a dividir era uma das lições mais valiosas para elas neste momento, mas se você tivesse um boneco com um braço quebrado ou um carrinho com rodas faltando, JAMAIS você tocaria naquele MEGA-ZORD original comprado no Shopping Center que você sempre quis, mas sempre soube que nem toda bondade do mundo faria o Papai Noel te dar um.


Nave do Batman que lançava foguetes? Nem pensar! Uma arma que emitia luzes e sons? Tá doido?


Era ai que batia aquela bad, você sentava sozinho no pátio com seu mini-game da TecToy com a tela parcialmente queimada, olhando com fúria para aquele menino cercado por outras crianças com seu Game-Boy novo em folha.


Mas semana que vem ele ia ver, ele que me aguardasse, pode deixar, vou trazer meu preciso, aí a gente vai ver quem é que vai reinar neste pátio.


Então você levava o seu brinquedo mais legal, mais caro e mais estimado na semana seguinte. As crianças te olhavam admiradas, você se sentia como o rei do Jardim de Infância. As crianças pedia para tocar nele, afinal, agora você tem uma boa moeda de troca no mundo de escambo do Dia do Brinquedo. Você cheio de desdém emprestava, olhando fixamente nos olhos do infeliz dizendo mentalmente “e agora seu lixo, quem é o maioral?”. Então quando você pegava seu brinquedo de volta, estava quebrado.


Quebrado...


Q-U-E-B-R-A-D-O


Sabe aquelas sensações ruins? Tipo perder a unha do dedão do pé, ou quando você ganha roupa no aniversário? Não é nada perto disso.

Essa sensação de pegar de volta o brinquedo quebrado figura nos anais da psicologia como um dos maiores tormentos humanos, sendo superado por pouco pela melancolia de ter um brinquedo novo quebrado por você mesmo, no mesmo em dia em que o ganhou, afinal, você foi o energúmeno que quebrou o próprio brinquedo, mas ter o brinquedo quebrado por alguém, e ainda devolvem te falando “olha, tava assim quando eu peguei, não sei quem foi” era de destroçar qualquer coração.


Era uma apunhalada nas costas, é de tal desolamento saber que seu precioso foi quebrado por alguém e você não poder nem apontar o dedo e falar “ô tia, ele quebrou o meu brinquedo” ou pior, receber a fúria do seus pais quando virem que você não só levou um brinquedo bom pra escola, como deixou quebrar E não s


abe quem foi. Isso dava castigo, amigos, daqueles brabos.


A não ser que você já fosse uma criança problemática, daquelas que levava um revólver de espoleta do Rambo e sai ameaçando pipocar seus coleguinhas até descobrir o culpado. Criando um pequeno alvoroço que ia desde fazer com que as professoras quase enfartassem, até chamar na sala quase todos os membros do corpo docente da escola. Agora, se você foi esse tipo de criança, você provavelmente, mas muito provavelmente poderia ter escrito esse texto.






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