top of page

SOPRAR FITA


O mundo hoje é um lugar triste. A criançada não faz ideia do que soprar uma fita de videogame era capaz de causar com uma pessoa. A sensação imediata e absoluta de "pronto, resolvi o problema, posso continuar minha jornada". Praticamente a habilidade de um técnico avançado de eletrônica transmitida pelo sopro, o cheiro de placa eletrônica quente que saia lá de dentro era algo inigualável ao olfato humano.


O que se tem por agora, no máximo, é limpar um impessoal DVD/CD/Blue Ray com uma flanela, ou colocar o videogame na vertical. Mas comparar isso com soprar uma boa fita é o mesmo que comparar a sensação de torcer pra qualquer piloto de Fórmula 1 ao invés do Senna.


Um videogame das antigas era um objeto com uma função única, rodar jogos, não tinha essa paspalhada de interface online, rede social embutida, ver filmes ou sequer ouvir músicas (até porque os melhores sons era os Midi 8/16 bits, e que conseguiam passar tanta emoção quanto uma orquestra inteira), toda essa gama de novas funções são artimanhas colocadas apenas pra vender mais aparelhos, acabam desfocando o de seu propósito divino original. Videogames antigos eram um aparelho de função essencial, um órgão especializado, ocupavam no lar com mesma importância aos olhos de uma criança, o que um fogão e/ou geladeira é para uma mãe, um carro para o pai, e um irmão mais novo para um irmão mais velho: um saco de pancadas.


Ninguém ensina a soprar fita, está embutido no gene, você olha pra fita e sabe o que fazer. Quando você a coloca no aparelho e tudo funciona, o mundo explode à suas costas.






bottom of page