Repousando no escuro, tranquilo, aguardava os toques finais de sua formação. O ambiente era acolhedor, apesar de toda aquela umidade, mas ele já estava acostumado. Não conseguia divisar bem sua lembrança mais antiga, ou sequer quando tinha começado a se lembrar de coisas, era um pouco estranho, parecia que o começo havia se perdido no tempo.
Os ruídos do mundo externo as vezes reverberavam lá dentro, despertando sua curiosidade. Ele não estava sozinho, havia ali também outro como ele, quase que perfeitamente idênticos, irmãos gêmeos.
Pelo lado de fora, a mulher olha sua barriga grande e redonda, e fica pensando “quando é que vocês vão sair?”.
Já era tempo.
Dentro de seu corpo, uma reação se iniciou, como uma fagulha que resulta em um grande incêndio, uma vez dada a ignição não há como parar. Estava na hora. Alguns músculos se contraíram. Lá dentro, na câmara escura, as coisas começam a se mover.
"O que está acontecendo?"
Um deles pensa, quando sente que está sendo empurrado para fora. Uma dor lancinante atinge o abdômen da mulher.
"É agora. Está acontecendo!"
Ela pensou.
As pontadas aumentam, involuntariamente ela começa a gemer. Que dor é essa meu deus?
Na penumbra completa, ele sente seu irmão ser sugado e ir embora, estava sozinho agora, será que para sempre? Em um intervalo pequeno de tempo percebe que terá o mesmo destino, o mundo externo os aguardava, sente medo, tudo lá fora é desconhecido. O corpo o estava expulsando, de nada adiantava resistir, nem mesmo era possível.
Quando dá por si, já tinha acabado. Estava lá fora. Sentiu brevemente o ar antes de encontrar seu irmão novamente. Ambos perplexos. E antes que pudessem entender o que estava se passando e acostumar-se com a luz uma sensação estranha os toma, o mundo começa a rodopiar, um barulho imenso preenche tudo a sua volta, e a escuridão toma posse novamente. Nascimento e morte de dois cocôs.