top of page

O REGRESSO


Cardíacos se preparem para a bomba que vem a seguir. Diabéticos também.


O FAMIGERADO CHOCOLATE SURPRESA VAI VOLTAR!!!!!!


!!!!!!

mais umas exclamações aqui !!!!!!!!


Sério.


Sério mesmo, não é zoeira.


Mas é tão sério que nem eu mesmo acredito ainda. Tipo, sei lá, quem inventaria uma mentira dessas? É tamanha maldade que nem mesmo Hitler daria conta. Talvez por isso seja verdade.


Eu já estava pra comprar uma caixa de rojão e agir loucamente no quintal, como se fosse final de algum campeonato ou tivesse chegado polícia no morro. Estava tudo ótimo, eu no meu frenesi louco, vomitando caracteres aos cotovelos num chat de facebook com o amigo que me trouxera tão messiânica notícia.


Mas aí... Sempre tem um “mas”.


Já falei isso em outro texto, e repito aqui porque é verdade. Sempre tem uma porra de um maldito de um caralho de um "mas".

Mas aí veio a Razão.


Ah, a razão. Artimanha cachorra da pisque humana, que vem prazerosamente dar um banho de água gelada na gente e apagar a chama de excitação, ainda que ela seja um mero fósforo que acabou de se acender.


Aí você pode estar se perguntando, o que foi que a ingrata da Razão estapeou na minha cara?


Pois lhes contarei.


Eu mal estava assimilando a notícia do retorno dessa divindade, quando fui assaltado pela pergunta fria e cruel (fato esse que serve-nos para lembrar o quão ordinária a vida é):


“Será que vai ter o mesmo gosto de antes?”


Porra, será que essa preocupação não poderia ter surgido um tempinho depois? Sei lá, umas duas semanas talvez. Não deu nem tempo de curtir a notícia.


Claro, ora bolas, é um questionamento razoável tendo em vista o expurgo alimentício que sofreram muitas das guloseimas que conheci na infância. Vários dos poucos chocolates sobreviventes de hoje em dia não honram o nome que carregam. Em seus tamanhos diminuídos, sabores alterados, e embalagens fáceis de abrir.


Vai falar que não?


Olha o Charge, que tranqueira que virou. Seco que só. As vezes ele vem até esbranquiçado.


O Chokito eu nem comento. Parei de respeitar quando pararam de vincular seus anúncios do tipo:leitecondesadocaramelisadocomflocoscrocantesrecobertocomodeliciosochocolatenestlé.


E o Sonho de Valsa então? Que era o bombom dos bomboms. Aquele que, de acordo com os comerciais, você podia dar pra uma garota e isso instantaneamente a faria cair de amores por você, e ela ainda guardaria a embalagem transparente aberta dentro de alguma agenda. Baseado nessa lógica, hoje em dia pra começar, pra conquistar uma garota você teria que comprar no mínimo, NO MÍNIMO uma caixa de Kopenhagen. E olhe lá.


Mas voltando ao cerne da questão, o Sonho de Valsa poderia ser rebaixado apenas a categoria de "bom", e não mais de bombom, pois não cumpre essa função que com certeza o nome carrega. Se não fosse pelo recheio daquele wafer molinho que a gente tira pra comer separado, depois de partir a casquinha ao meio cirurgicamente com os dentes, ele nem precisava existir. Porque o chocolate em volta, esse prelúdio que a gente comia com prazer pois sabíamos o que nos aguardava dentro, está mais ensosso que cd do Los Hermanos sendo usado de trilha sonora pra filme búlgaro da década de 70.


O Baton é outro que deveria ter sumido pra não virar o que virou. Não consigo nem descrever. O comercial proibido deveria voltar, só que agora dizendo: não compre batom, não compre batonnn...


O Sedução eu já nem vejo por aí faz tempo. Talvez tenha envelhecido e perdido sua libido.


E por conta disso não seduz mais ninguém.

De boa, eu espero mesmo que o retorno do Surpresa não seja na verdade uma desagradável surpresa. Como alguns remakes e continuações de franquias de filmes tem sido. Ao menos já anunciaram o regresso dele acompanhado do regresso do álbum dos dinossauros. De longe o meu favorito.


Álbum dos dinossauros... Será isso um presságio para o regresso dos gigantes répteis ao mundo real? Aguardemos a páscoa para descobrir.


Mas até lá, eu juro, do fundo do meu coração morto, que a última coisa que espero é que ao morder aquela barra tenra, com desenho em alto relevo (depois de ver a figurinha de papelão) que a minha língua se acometa por um gostão de parafina.

GOSTÃO DE PARAFINA.


Daqueles que a gente só sentia quando comia aquelas bolinhas de futebol e guarda-chuvinhas de festa de criança. Mas lá esse sabor tinha a sua magia. A magia da infância, da ignorância do mundo. A ignorância que nos fazia feliz...


Colé, vai falar que não? Vai falar que em bolinha de futebol e guarda-chuvinha tem porcentagem de cacau o suficiente pra chamar de chocolate?


Pfffff...Rachou um templo asteca agora.


Guarda-chuvinha tinha tanta, mas tanta parafina, que se colocasse um pavio ali dava pra usar de vela em dia de apagão.

Ou então em bolo de festinha de criança.


Festinha em que a surpresa nunca era um chocolate Surpresa.

bottom of page