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ANOS 80


A era das pachorras.


Essa frase que abre o texto deveria bastar, na verdade ela basta, tornando todo o resto em diante obsoleto. O que será lido em seguida é apenas uma leve descrição informativa, voltada para os que não desfrutaram desse período ímpar da história humana.


Pra começar eu não vivi propriamente os anos 80, visto que nasci em 1985. Mas como os legados de uma década são uma linha que nem sempre é concordante com o calendário, posso dizer assim que até o meio dos 90 ainda tinha um bocado de 80 rolando.


O fato do Brasil ser um país de terceiro mundo contribuiu muito para essa extensão, demoravam para chegar aqui novos brinquedos, não existia a internet para desmentir boatos como a Adaga Negra do Fofão ou as capetisses dos discos da Xuxa. Um filme levava uns dois anos para chegar as locadoras e uns quatro para passar na TV aberta.


O cinema dos anos 80 é o que considero sua maior herança. Qualquer tipo de roteiro, (da licença aqui pra eu ligar o capslock) QUALQUER TIPO, por mais absurdo que fosse, era produzido. O que difere de hoje em dia? Bom hoje em dia qualquer tipo de roteiro continua sendo produzido, mas nem sempre por grandes estúdios. Já o Oitentão da Loucura fez com que fossem possíveis filmes como Gremmlins, Aventureiros do Bairro Proibido, todososfilmesdecarasfodões, Criaturinhas, Caça Fantasmas, De Volta Para o Futuro, Curtindo A Vida Adoidado, etc, serem feitos com os recursos que realmente mereciam. Que tente aquele que se achar capaz de tecer uma crítica negativa para filmes onde garotos com bicicletas e lanternas eram capazes de enfrentar o governo e resolver qualquer tipo de problema.


Nessa época era totalmente plausível um filme onde um policial morasse em um barco e dirigisse um muscle car envenenado, fosse treinado em kung fu e ainda por cima namorasse uma gostosa maravilhosa e riquíssima que tinha salvado de um ataque ninja em plena Miami. Recheado por diálogos repletos de frases de efeito, embalados por músicas entupidas de sintetizadores, guitarra teclado e bateria eletrônica. Bom, na verdade eu odeio a guitarra teclado, mas ela personifica muito essa Era.


“... e na porta dos céus São Pedro faz a pergunta que lhe é destinada a fazer a Cyndi Lauper: o que fez você para que mereças adentrar os portões do paraíso e não o fogo eterno dos pecadores? -A música dos Goonies. Apenas o que São Pedro ouve, pois nenhuma palavra foi proferida além destas. Ao lado de Cristo ela se encontra hoje, a ocupar o lugar de Maria, que perdeu-se pela tentação de ter sua imagem representada em oleosos vitrais...” Revelações 14:06


Abrindo um parêntese na música, naquela época música portátil significava peso, porque um Walkman por menor que fosse ainda sim era imenso pros padrões de hoje. Que ninguém pense que isso atrapalhava, porque não atrapalhava nada. Cansei de ver gente na rua com aquele lingote ancorado no cinto. E os que tocavam o outro lado da fita sem precisar vira-la? Lágrimas em minha face...


Fica até difícil escolher quais coisas citar da inúmera vastidão vendida no Polishop, com seu telefone imortalizado pela musica 1406 dos Mamonas Assassinas. Os itens ali fizeram os sonhos de muita gente, desde pais que queriam uma cera que fosse capaz de cobrir estragos feitos com uma granada jogada diretamente sobre o capô do seu carro, ou donas de casa imaginando como sua vida na cozinha seria mais fácil se tivessem uma faca capaz de atravessar chapas de aço ou até mesmo armaduras medievais. Existiam ainda meias que esticavam tanto que hoje em dia poderíamos usa-las de matéria prima para bungee-jump, e óculos que protegiam os olhos de raios de sol tidos como mais nocivos que olhar diretamente para um cogumelo atômico. De todas essas bizarrices o meu favorito pelo absurdo era o sofá inflável preto, que podia ser usado no meio da piscina, no quintal, na sala de estar, ou para pescar no meio do rio. Não dá pra não desejar uma coisa dessas, se eu achasse a lâmpada do gênio um dos pedidos seria esse sofá, o outro seria o Ctrl-Z na vida real, e o terceiro provavelmente seria rios de dinheiro para poder comprar todas essas besteiras.


A TV aberta deixou saudades também, nessa época o Didi e sua turma (que não era a Turma do Didi) faziam as pessoas rirem. A gloriosa rede Manchete quando já estava nos últimos dias de vida exibia apenas seu logotipo na tela, durante horas. O pior é que muita gente sabe disso porque tinha muita criança esperando começar Cavaleiros do Zodíaco, e pra não arriscar perder o começo deixávamos a televisão ligada pra podermos conferir de hora em hora (leia-se hora em hora como cinco em cinco minutos). Muitos dias se passaram assim, até que só houve a estática. Manchete, nunca te esqueceremos.


A lista de brinquedos legais beira as toneladas, os que não podem deixar de ser citados: Genius, Pense-Bem, Lango-Lango, Pogobol, Aquaplay, Comandos em Ação com suas mochilas que faziam barulho ( atenção aos cardíacos que se aventuraram até aqui, parem, ainda há emoções mais fortes até o fim do texto) Roller Blade e Carrinhos de Fricção, esse último já vem se tornando mais raro hoje em dia. Esses brinquedos eram doutrinadores e formavam caráter. A única crítica a ser feita, é ao fato do mais sórdido capitalismo ser empregado na venda dos Comandos em Ação, que tipo de mente cruel permitiu que os brinquedos da série não viessem com nenhum boneco? Nenhunzinho de nada, não importando se você comprasse uma moto, um helicóptero imenso.


Já citei CDZ, mas esse não é o único desenho/programa a ser lembrado aqui, quem nunca quis ter o tanque dos Thunder Cats? Ou os robôs de algum seriado japonês? Haviam também He-Man, Caverna do Dragão, Chaves, Alf, e um bocado de desenho da Warner/Hanna-Barbera cheios de violência que não fizeram ninguém virar psicopata e sair metralhando cinema por aí. Nada parecido com essas baboseiras que causam atraso cerebral como os programas infantis de hoje em dia.


Ao fim desse texto tenho uma sensação de estar vivendo essa época de novo, mas já-já me sentirei como Lucas Silva e Silva do mundo da lua, quando acabava o rolo do gravador e ele voltava a realidade.


Os 80 se foram para nunca mais voltar, triste porém verdade. Mas só será triste até o dia que inventarem o De Lorean que volta no tempo, porque arrumar os 1,21 gigawatts de potência é baba hoje em dia.


Dizem que existe a geração X e a geração Y, eu não sei de qual sou, se eu for da Y o meu Y é um capacitor de fluxo, ou então rabisco o Y pra virar um X, mas um X que é o X do desenho do X-Men que passava na Globo.








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